domingo, 20 de maio de 2018

Não leiam o Professor Nazareno!


Não leiam o Professor Nazareno!

Professor Nazareno*

            Rondônia é um fim de mundo sem eira nem beira, disso muita gente sabe. É um lugar ermo, atrasado, brega e com raros resquícios de civilidade. Se o mundo fosse o corpo humano já se sabe qual parte que representaríamos. Sua capital é suja, fedorenta, sem rede de esgotos, sem mobilidade urbana, violenta, mal administrada, quente, sem água tratada e segundo o Instituto Trata Brasil é a pior dentre as 27 capitais do Brasil em qualidade de vida. Muitos dos políticos daqui são larápios do dinheiro público e estão cansados de se envolver em escândalos. Operação Dominó, Operação Ludus, Operação Termópilas e tantas outras já fazem parte do folclore político local. E o eleitor de Rondônia nunca tomou vergonha na cara para se livrar desta praga que tanto lhe identifica. Rotina: entra ano e sai ano e os mesmos maus políticos são eleitos e reeleitos.
            Porém, o que não combina com Rondônia nem com nenhum outro lugar do mundo é a censura. Meus textos, no entanto, já sofreram muitos tipos de cerceamento e quase todos vindos inacreditavelmente de pessoas que usam a palavra como ferramenta de trabalho. Desta vez foi o excelente chargista Rondineli Gonzalez a apontar suas baterias antidemocráticas e ditatoriais contra mim. Gonzalez deve conhecer Voltaire e sabe que a censura foi abolida há pouco tempo a muito custo no nosso país. Adoro o trabalho de alto nível dele e jamais teria a coragem de pedir que algum órgão da mídia local o boicotasse. Mas Rondineli não é o único. Outros sujeitos metidos a jornalistas e intelectuais já se incomodaram também com os meus escritos. Até donos de site. E todos eles têm todo o direito de não gostarem dos meus textos. Só não podem proibi-los.
            Gonzalez é um jovem rondoniense que tem um talento raro para produzir boas charges. Ele se diz jornalista, mas precisa aprender o que é liberdade de opinião. Gostar de Rondônia, de Porto Velho e de suas bizarrices é um direito dele e de qualquer outro cidadão. Eu respeito, embora não concorde. Já não gostar daqui é um direito meu que também precisa ser respeitado. Faço textos por que sou professor de Redação e também sou jornalista com formação acadêmica. Nunca pedi a nenhum site que os publicasse. Tenho um blog (https://blogdotionaza.blogspot.com) e nele publico o que eu quiser, quando quiser, como quiser. Estão incomodados? Bloqueiem-me na internet. Estão chateados comigo, mas por que leem o que eu escrevo? Não leiam, então! Em vez disso, leiam Foucault, Machado, Clarice, Fernando Pessoa, Nietzsche ou Drummond.
            O problema talvez seja porque geralmente faço meus textos pela manhã, sentado no vaso sanitário, daí escrever tanta m... Outro dia um professor de História disse que eu era débil mental. E muitas outras pessoas já promoveram campanhas e mais campanhas nas redes sociais para censurarem meus escritos tolos e até para me expulsar da cidade. Tudo isso é risível, pois não conseguem deixar de ler a minha opinião. Entrem na Justiça contra mim, senhores! Porém, para desespero de muitos, não vou parar jamais de escrever a não ser que aconteça algo de pior comigo, uma vez que “aqui é uma terra já bem acostumada ao ronco do trabuco”. Rondônia é um lugar “maravilhoso” onde alguns jornalistas se insurgem contra textos, ativistas culturais não toleram o diferente, intelectuais pregam a censura e o povo, sempre ele, elege todo ano os piores políticos. Em que outro lugar do mundo encontraria tantas bizarrices para escrever meus textos?




*É Professor em Porto Velho.

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