sábado, 28 de abril de 2018

Rondônia será extinta



Rondônia será extinta


Professor Nazareno*

            A participação do atrasado, subdesenvolvido e longe Estado de Rondônia no PIB do Brasil é insignificante: algo em torno de 0,6% apenas. Aqui tem uma população que representa menos de um por cento da população nacional. Por isso, para a realidade do país Rondônia não significa absolutamente nada. Este Estado vai se acabar muito em breve e não será nenhum desastre natural o responsável pela hecatombe karipuna. Com pífios números à frente de apenas quatro outros Estados, todos da região Norte, a jovem unidade da federação agoniza e devia ser extinta para não dar mais prejuízos à nação. O fim “disso aqui” não seria percebido por quase ninguém, além de trazer um enorme alívio para muitas pessoas: a dívida do extinto Beron, o Banco do Estado de Rondônia, foi adiada até 2048 e agora teremos que pagar à União mais de metade do nosso PIB.
            Óbvio que essa dívida já foi paga várias vezes e todo mundo sabe disso. Porém, muito pior do que qualquer catástrofe da natureza, a classe política desse Estado, além de não fazer absolutamente nada em benefício dos pobres cidadãos pagadores de impostos, ainda contrai dívidas astronômicas e praticamente impagáveis para nossos filhos e netos. Se Rondônia não tivesse sido transformada em Estado, esta dívida não existiria. A emancipação foi a pior coisa que nos aconteceu. Se tivéssemos continuado a ser administrados por Brasília, a situação talvez não tivesse chegado a esse ponto. Rondônia hoje só dá prejuízos e vergonha ao restante dos brasileiros, que também não têm muito do que se vangloriar. Fomos emancipados somente para ajudar a Arena, o partido dos generais. Mesmo assim, Brasília só mandou coronéis para nos administrar.
            Desfeito o “grande erro” de 1981, talvez tivéssemos dias melhores. Opções não faltariam: poderíamos ser devolvidos à Bolívia, por exemplo, que seria bem melhor. Ou então sermos anexados ao Mato Grosso ou ao Amazonas. E quem pegasse o “abacaxi”, herdaria também todas as dívidas e todas as outras desgraças que aqui existem. Deviam colocar o Estado de Rondônia à venda. Mas duvido que alguém em sã consciência quisesse comprá-lo. Ficar com a cidade de Porto Velho, a sua podre e fedorenta capital? Só se fosse para destruí-la por completo a fim de vender os destroços para as empresas de construção e aterro. O “açougue” João Paulo Segundo não serviria para nada depois de implodido. Muitas outras obras da cidade como o Espaço Alternativo, a ponte escura e os viadutos tortos e íngremes nem para aterro servem mais. Ninguém compra o caos.
            Depois das Operações Dominó, Luminus, Hygéia, Ludus, Termópilas e infinitas outras realizadas no Estado pela Polícia Federal, o preço de Rondônia não vale hoje sequer um único centavo. Só que vendido, nem que seja no mercado negro, o Estado se livraria de trambolhos como a Assembleia Legislativa e a capital abriria mão da Câmara de Vereadores. Um alívio: campanhas políticas não haveria mais. Nenhum senador, nenhum deputado, nenhum governador. Mas os rondonienses são teimosos como mulas, já que preferem ficar no prejuízo sem nenhuma qualidade de vida e sofrendo a ter que serem administrados por Brasília. Um paradoxo, pois nunca, jamais, em tempo algum, um rondoniense nato administrou o Estado. Nem a sua suja capital. Os forasteiros sempre tiveram vez por aqui só que “deu no que deu”. Sob a ótica do Capitalismo, Rondônia é um lugar já falido. Vendendo tudo, não pagaria o que deve. Quem dá mais?




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Um banco para Rondônia



Um banco para Rondônia


Professor Nazareno*

            O jovem e atrasado Estado de Rondônia não tem banco. Mas já teve: era o Beron, Banco do Estado de Rondônia. Porém, muitos dizem que não era um banco de verdade, “assim como o fusca não era um carro”. O referido banco teve pouco tempo de existência. Mas nesse curto período foi dilapidado pela classe política do Estado. Muitos se beneficiaram do dinheiro fácil daquela instituição financeira. E vivem muito bem até hoje. Na década de 90 do século passado e em plena época do Neoliberalismo do PSDB e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a ordem era liquidar de vez aquele agente público. Por isso, tudo do Estado fora “doado” aos empresários. Foi nessa mesma época que o ex-governador José Bianco demitiu cerca de dez mil servidores públicos causando dessa maneira uma das maiores crises socioeconômicas por aqui.
            O Beron não sobreviveu, mas o Estado de Rondônia, a duras penas, continua sobrevivendo infelizmente até hoje. Dizem que foi apenas um político o repensável pela liquidação do “caixa dos políticos”. Ledo engano. Foram muitos oportunistas que arruinaram o ex-banco. E pior: até hoje a dívida com a União continua sendo paga e por isso, depois de quase duas décadas permanece nos dando prejuízos. Muitos dos seus ex-funcionários ainda brigam na Justiça para receber compensações trabalhistas e indenizações. Rondônia é um Estado muito rico, mas de uma gente pobre. E a culpa é toda dos políticos. Como pode um Estado situado entre dois biomas reconhecidos no mundo inteiro, o Cerrado e a Amazônia, e dono de uma das mais ricas biodiversidades do planeta ter tantos problemas como Rondônia? E por que os políticos nada fazem?
Como pode haver pobreza e miséria em um Estado que tem um dos maiores rebanhos bovinos do Brasil? Fala-se em mais de 12 milhões de cabeças de gado. Aqui não há seca, como em muitos Estados nordestinos. Não há desastres naturais como terremotos, geadas ou nevascas. Não temos vulcões, mas temos a Assembleia Legislativa do Estado e em Porto Velho temos a Câmara de Vereadores. Além disso, nossos políticos são talvez os piores do Brasil. A nossa população é muito pequena e a extensão territorial é enorme. Somos maiores do que o Reino Unido. Não fosse a maldita classe política, talvez estivéssemos melhor. Este Estado precisa de um banco. Que tal ROBAN, o Rondônia Banco? Bem diferente do velho Beron, na nova instituição somente aqueles mais pobres e necessitados teriam direito às benesses.
Rondônia não tem banco, Porto Velho, que é uma capital, não tem porto decente, não tem saneamento básico, água tratada nem mobilidade urbana, as estradas daqui não são duplicadas, o curso de Medicina na única universidade pública não tem hospital universitário, o aeroporto internacional da capital não faz um voo sequer para fora do Brasil, a ponte que liga o “nada a coisa alguma” não tem iluminação, a rodoviária da capital se parece um pocilga, nossa educação é sofrível em todos os aspectos, a saúde pública padece diariamente com o seu “açougue” problemático, somos talvez o único Estado do Brasil em que não há universidade estadual, os nossos três senadores estão enrolados com a Justiça e a maioria dos políticos reza para se reeleger a fim de se livrar dos seus processos. Porém com todas essas mazelas, o povo estranhamente é feliz e todo final de tarde vai ao Espaço Alternativo fazer “fotinhas” para postar no Facebook.




*É Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Por que odiamos os políticos?



Por que odiamos os políticos?


Professor Nazareno*

            Depois do futebol e talvez do Carnaval, o esporte favorito dos brasileiros é falar mal dos políticos. Nestes tempos de Operação Lava Jato com processos e prisão de várias autoridades, inclusive de um ex-presidente da República, a população respira aliviada toda vez que um político vai “em cana”. Nunca na História deste país, o STF trabalhou tanto. A situação chegou a tal ponto que muitos brasileiros sabem na ponta da língua o nome dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal e ignoram a escalação da seleção nacional de futebol para a próxima Copa do Mundo. Para muitos, ser político é sinônimo de ladrão, de querer ficar rico à custa do trabalho alheio. Entrar para a política hoje no Brasil é o mesmo que entrar para o mundo do crime. Aliás, muitos bandidos e traficantes gozam de popularidade bem maior do que muitas autoridades constituídas.
Há mais de 40 anos o Brasil figura entre as 10 maiores potências econômicas do mundo. No início do século chegou a ser a sexta maior economia do planeta quando seu PIB quase supera o da França e o da Inglaterra. Hoje somos o segundo maior produtor de alimentos do mundo. Temos riquezas naturais incalculáveis, além de mais de sete mil quilômetros só de litoral. Na Amazônia temos um quinto de toda a água potável do planeta. Isso sem falar na rica biodiversidade. Com mais de 220 milhões de cabeças, temos o maior rebanho bovino comercializável do mundo. Produzimos frango, soja, milho, pescados e inúmeras outras commodities. As nossas riquezas são invejáveis, mas a classe política nacional não deixa que toda essa fartura chegue à mesa dos cidadãos. Temos hoje mais de 20 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.
De certa forma, os políticos do Brasil são os maiores responsáveis pela miséria e pela pobreza nacional. A desigualdade social, uma das maiores do mundo, é incentivada e fomentada pelos péssimos serviços públicos que são prestados aos nossos cidadãos. Pelo menos 34,4 por cento do PIB são arrecadados em impostos. Mais do que países como Canadá, Austrália e Alemanha. Parte do dinheiro e da riqueza nacional que são produzidos aqui vai para o bolso dessas autoridades e de empresários igualmente ladrões. Entrar na política pode significar acesso a essa riqueza. Todos os presidentes, governadores e prefeitos, de direita ou de esquerda, lutam para chegar aos seus cargos e depois esquecem os eleitores e passam, na maioria das vezes, a dilapidar o Erário sem dó nem piedade. Isso sem falar nos 61.604 senadores, deputados e vereadores do país.
Roubar, roubar e roubar são os objetivos da maioria dos que entram na política. Os caras roubam até casca de ferida. E pior: nada fazem em beneficio daqueles que os elegeram. Rondônia é um exemplo claro dessa distorção nacional. Tem uma população minúscula e um PIB até alto. Possui um dos maiores rebanhos bovinos do país, está situada entre dois biomas reconhecidos no mundo, tem muita água portável e extensões de terras produtivas, mas a riqueza parece que passou longe dos seus habitantes. Porto Velho, sua suja e imunda capital é uma cidade pior do que Porto Príncipe, capital do Haiti. Parece uma cidade da África Subsaariana. Lixo, pobreza e miséria são os cartões postais do lugar. Parte dos seus políticos ganha da média nacional em roubalheira, escândalos, corrupção, mentiras e incompetência. Em Rondônia e no Brasil, o povo não gosta dos políticos, mas os elege sempre. Assim não há como quebrar nossas  correntes.




*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Porco Velho: latrina do Brasil



Porco Velho: latrina do Brasil


Professor Nazareno*

            Agora é oficial. Porto Velho, a imunda, podre e fedorenta capital de Roraima, é a pior dentre as maiores cidades do país em saneamento básico e água tratada. Até o ano de 2017, estávamos à frente de Ananindeua no Pará e de Macapá, capital do Amapá. Em 2018, com apenas 36,3% das residências com água encanada e de risíveis 3,3% de esgotos e saneamento básico, a “capital das sentinelas avançadas” ficou em centésimo lugar, ou seja, amarga a lanterna dentre as cem maiores cidades do Brasil. E quem diz isso é o Instituto Trata Brasil em sua última publicação sobre o ranking do saneamento básico nas cidades do país. Uma vergonha se levarmos em consideração o fato de que estamos localizados ao lado do rio Madeira, um dos maiores rios do mundo, com água barrenta, mas potável. Isso sem falar em vários outros rios menores e muitos igarapés.
            Além de ser vergonhoso viver em um lugar inóspito, que ostenta estes números ridículos quando se fala em limpeza urbana, somos obrigados a pagar uma das mais altas taxas de IPTU dentre as capitais. Pagamos também taxa de iluminação pública para vivermos praticamente na escuridão. A Ponte do rio Madeira é escura e o viaduto do antigo Trevo do Roque não tem uma só lâmpada. As ruas do centro e dos bairros mais distantes também imitam o breu. E ainda falta muita energia. Porto Velho fede à merda por onde se vá. A podridão e a carniça podem ser sentidas nos quatro cantos da capital. No inverno, as alagações dão o tom da estação chuvosa. Ruas inteiras e grandes avenidas se parecem rios imundos com bosta boiando em suas pútridas águas. Isso quando não se veem animais mortos cobertos de tapurus “enfeitando” a triste paisagem.
            Infelizmente Porto Velho sempre foi assim. Entra ano e sai ano e nada melhora por aqui. A esculhambação não tem fim. Parece que nunca teve prefeito que mostrasse um mínimo de amor pela “prostituta velha e abandonada”. Só este ano, 150 milhões de reais serão desperdiçados. Se a cidade fosse uma mulher, todos os seus administradores já tinham sido enquadrados na Lei Maria da Penha. Pior: praticamente todos os que a maltrataram estão este ano de 2018 nas ruas pedindo o voto dos tolos porto-velhenses. Porto Velho não tem porto. O barranco escorregadio já substituiu o moderno porto rampeado doado pela Santo Antônio Energia. E ninguém toma providências. Deve ser porque é só gente pobre que usa aquelas instalações. Rodoviária há, mas é suja também. Isso sem falar no acanhado e feio aeroporto, que de internacional não tem absolutamente nada.  
Nós somos a latrina do Brasil. Uma cidade porca, cheia de lixo e fedorenta. Ninguém de fora quer investir num lugar onde a sujeira é rotina. Depois de um show ou mesmo um desfile de carnaval, toneladas de lixo invadem as ruas entupindo os poucos bueiros que existem. Depois, as infectas águas pluviais fazem o resto do serviço. Aqui não há praças floridas como em Curitiba, que ficou em primeiro lugar dentre as capitais. Não há recantos de lazer. Flores, nem nos cemitérios existem. Nem Natal iluminado tem por aqui como nas cidades de verdade do sul do país. Mas Porto Velho tem passarela no Espaço Alternativo onde os mais simplórios se deleitam e fazem “fotinhas” para postar nas redes sociais. Tem também bandeiras na entrada da cidade em vez da estátua do Jeca Tatu. Impossível não sentir vergonha quando os nossos parentes insistem em nos visitar. Pelos recursos que existem, Porto Velho não merecia essa situação deprimente.





*É Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Onde Lula e o PT erraram?



Onde Lula e o PT erraram?


Professor Nazareno*

            O ex-presidente Lula está preso já há mais de uma semana nas dependências da Polícia Federal em Curitiba. Pela segunda vez na vida, ele amarga a prisão. Durante a Ditadura Militar em 1980 foi em cana por 31 dias por ter liderado uma greve dos metalúrgicos em São Paulo. Hoje está atrás das grades por ser acusado, sem provas, de corrupção. Segundo a Justiça, ele teria recebido da empreiteira OAS um apartamento tríplex em Guarujá, litoral do Estado em troca de favores e benefícios à empresa. Há, no entanto, muitas outras acusações contra o ex-metalúrgico. A mentalidade que o prendeu agora pode ser a mesma de 38 anos atrás. Nos mais de 518 anos de História do Brasil, a esquerda só governou por 13 anos enquanto a direita governou o resto do tempo. Ainda assim os esquerdistas governaram em conluio com a elite que tanto abominavam.
            Lula preso não é bom para a imagem do Brasil nem dos brasileiros. Ele foi presidente do país por dois mandatos e neste período o mundo inteiro o aplaudiu. Mas onde foi que Lula e o seu corrupto partido, o PT, erraram? Se ele recebeu muitos bens, valores, doações e favores de forma ilícita e indevida tanto para ele como para o seu partido, não há a menor dúvida de que ele está no lugar certo: a cadeia. Porém é preciso prender todos os outros políticos que também erraram. E são muitos. De qualquer partido ou coligação. O erro de Lula e do seu Partido dos Trabalhadores foi ter se juntado de forma perigosa à elite do país. Por ter se encantado demais com o dinheiro fácil, foi traído duas vezes: no golpe parlamentar de 2016 dado por Michel Temer e sua turma e um pouco antes quando ao ex-mandatário aceitou propina de empresários.
            Mesmo preso, Lula lidera com folga a corrida presidencial. Tem “somente” 31 por cento das intenções de votos segundo a última pesquisa divulgada. Isso é bem mais do que o dobro da soma do segundo e do terceiro colocados. Se as eleições fossem hoje, é bem provável que o ex-metalúrgico saísse vitorioso ainda no primeiro turno. E por quê? Para desespero dos reacionários e direitistas as respostas podem estar nos governos petistas. Mesmo hoje estando condenado, processado, preso e respondendo à acusação de corrupto, Lula governou muito próximo do povão. Muitos de seus programas sociais encantaram o Brasil e o mundo. Fome Zero. Universidade para todos. Minha casa, minha vida. Mais médicos. Transposição do rio São Francisco dentre muitos outros programas sociais voltados para o atendimento das populações mais carentes do país.
            Muitos pobres do país jamais se esquecerão dos benefícios que receberam dos governos petistas. Por isso, toda essa adoração a Lula, Dilma e demais “companheiros”.  Muitos desses desvalidos hoje colocam Lula também na vala comum destinada a todos os políticos do Brasil. “Todos são ladrões e corruptos, mas pelo menos Lula foi o único dentre eles que olhou para nós”, é o que se ouve de muitas pessoas. Mas a direita não permitirá jamais a volta do “sapo barbudo”. Se ele conseguir se candidatar e ganhar a Presidência da República como está previsto, aí sim, teremos outro golpe. Nem Lula, nem o PT, nem nenhum outro partido ou líder identificado com o pensamento progressista governarão mais este país, ainda que seja pela via democrática. A elite e os poderes constituídos não deixarão. Farão como fizeram em 1964. Só que terão que pensar na maioria pobre do país ou então só chegarão ao poder pela força das baionetas.





*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Deixem o Confúcio em paz!


Deixem o Confúcio em paz!


Professor Nazareno*

            A PGR, Procuradoria Geral da República, pediu que o ex-governador de Rondônia, o médico Confúcio Aires de Moura seja investigado pela justiça comum, já que o mesmo perdeu o foro privilegiado. Ele e mais outros quatro governadores podem agora ter seus processos analisados por instâncias inferiores da Justiça. Confúcio Moura, nascido em Dianópolis/Goiás, hoje Estado do Tocantins, e que renunciou recentemente ao cargo de governador para concorrer a uma vaga de senador pelo MDB exerceu por dois mandatos consecutivos o maior cargo político de Rondônia. Se isto acontecer estaremos diante de uma das maiores injustiças de que se tem notícia na nossa política. Embora estejamos vivendo dias de civilidade no meio político, a possível condenação de Confúcio se caracterizaria como um dos maiores equívocos do Brasil.
            À frente do governo do Estado durante oito anos, Confúcio foi uma espécie de Winston Churchill para os rondonienses. Para se ter uma ideia, no ocaso do seu “mandato de ouro”, ele mandou construir uma passarela no Espaço Alternativo para os porto-velhenses fazerem “fotinhas” para postar nas redes sociais. Os rondonienses mais eufóricos e bairristas festejam essa obra futurística como uma grande vitória deste povo sofrido. Nenhum outro chefe de Estado em tempo algum teve esta ideia extraordinária. Rondônia só teve dois governadores em toda a sua história: Confúcio e os outros. É o que se ouve das pessoas e dos eleitores mais humildes. Estadista de primeira grandeza e amado pelo seu simplório povo, o ex-governador rondoniense bem que poderia ser indicado para a ONU, para a OEA ou para qualquer outra instituição de nível mundial.
            Confúcio deixou marcas indeléveis no Estado. Na greve da Polícia Militar ainda no início do seu primeiro mandato, por exemplo, ele atuou como um diplomata. Sempre tratou os funcionários públicos do Estado com a maestria de um grande líder. Aumentos salariais sempre foram uma constante em sua “dourada” administração. Governando os rondonienses usando apenas um simples blog, esse humilde médico do Tocantins superou em simpatia até o “Império da Roça” de Ivo Cassol. Na Educação é difícil encontrar um professor que não goste do ex-prefeito de Ariquemes. Até o sisudo Sintero, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação, tece loas em homenagem a ele. Rondônia com Confúcio Moura é uma, sem ele é outra completamente diferente e atrasada. Eleito senador, imagine-se o que ele não fará por Rondônia e seu sofrido povo.
            Claro que Porto Velho é uma capital suja, imunda, fedorenta e podre. Mas o ex-governador tratou de dar um jeito. Mandou fazer esgotos e providenciou água tratada para os mais de 500 mil moradores da cidade. Vejam a situação do “açougue” João Paulo Segundo atualmente. Não é nem a sombra daquele que Confúcio encontrou no início de sua administração. Em Porto Velho pessoas se fazem de doente só para serem internadas ali. Do pobre ao rico não há quem não queira receber os excelentes serviços daquele “Spa médico”. Até escola de tempo integral Rondônia tem hoje. E graças a quem? Confúcio Moura deveria permanecer como governador deste Estado pelo terceiro mandato consecutivo, essa é a vontade do povo daqui. Será que não daria para mudar a Constituição? O Senado só ganhará com ele, que não devia ser julgado nem processado por nenhuma instância de Justiça. Afinal o “nosso senador” nunca fez nada!




*É Professor em Porto Velho.

sábado, 7 de abril de 2018

Direita: um tiro no pé?



Direita: um tiro no pé?



Professor Nazareno*

            
        Para a alegria de muitos brasileiros conservadores e reacionários, o esquerdista Lula finalmente está preso. Depois de se entregar à Polícia Federal em São Paulo, o ex-presidente do Brasil por dois mandatos consecutivos vai finalmente a Curitiba a fim de cumprir a pena a que foi condenado por acusações de lavagem de dinheiro e corrupção. Com amplo direito de defesa e praticamente depois de se esgotarem todos os recursos impetrados por seus advogados, o ex-metalúrgico vai, por motivos diferentes, pela segunda vez para a cadeia. Desta vez, Lula foi acusado de ter recebido de empreiteiros vários mimos e presentes, dentre eles, um apartamento tríplex localizado na praia do Guarujá, litoral de São Paulo, motivo pelo qual o ex-mandatário deverá cumprir pelo menos 12 anos de reclusão. Em troca, o ex-chefe da nação beneficiaria várias empresas.
Do ponto de vista legal, não há provas contra o Lula. Nem neste processo nem talvez em outros. Porém, ninguém é tolo a ponto de achar que o ex-presidente é um coroinha de igreja. Mas por que ele não ameaçou denunciar o dono da OAS quando o empresário lhe ofereceu de presente o apartamento do Guarujá? Por que ele, o Lula, não refutou e também ameaçou de cadeia quando lhe ofereceram o sítio de Atibaia? Não há documentos dizendo que estas propriedades são do ex-presidente, é verdade. Mas nos autos e nas investigações há provas mais do que suficientes disso. Como ex-presidente do Brasil e como um dos maiores líderes mundiais, Lula caiu feito um tolo, um patinho, um idiota, nas artimanhas da elite. A OAS e a Odebrecht, afirma-se, ganharam contratos inimagináveis nas administrações do PT. Ou seja, Lula não roubou, mas deixou roubar.
O petista tinha que ser preso mesmo, assim como aconteceu com o Nicolas Sarkozy da França e a ex-presidente da Coreia do Sul. Muitos petistas e esquerdistas reclamam que muitos dos atuais políticos não foram presos. Claro que vamos esperar que o Michel Temer, Aécio Neves, Romero Jucá, Renan, Raupp, dentre muitos outros também, assim que perderem o foro privilegiado, sejam presos pelo que fizeram. A Operação Lava Jato não terminou com a prisão do ex-presidente. “E TODOS OS QUE ERRARAM DEVEM PAGAR PELOS SEUS CRIMES”. Mas só o tempo e a História dirão se toda essa pirotecnia do juiz Sérgio Moro é perseguição ou não contra Lula e o PT. Se o ex-metalúrgico do ABC fez algo de bom ou não pelo povo e pelos governados quando exerceu a Presidência do país, isso não pode ser um álibi para cometer erros.
Porém, a direita pode ter dado um tiro no pé ao acusar, condenar e mandar prender o Lula. "A esquerda se uniu, os movimentos sociais ressurgiram, sindicatos despertaram, artistas e intelectuais reagiram, líderes mundiais protestaram e muitos juristas no Brasil condenaram". Agora que prenderam, sem provas, um político da esquerda, todos os outros políticos, da direita ou não, têm que ser presos também. Claro, se cometeram erros. E pelo que se sabe são poucos os inocentes. Da mala de 500 mil reais do deputado Rocha Loures aos delitos de Aécio Neves e até do helicóptero repleto de cocaína tudo deve passar pelo crivo dos juízes e procuradores da Lava Jato. Muitos políticos agora estão de “orelhas em pé” e para se livrar da cana têm de ser reeleitos nas próximas eleições. A direita está frita e nada pode comemorar: não tem candidato, tem de lutar contra a esquerda e ainda engolir a extrema direita representada pelo Bolsonaro.






*É Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Da passarela ao Jeca Tatu

Da passarela ao Jeca Tatu


Professor Nazareno*

            
           Finalmente as obras do Espaço Alternativo de Porto Velho foram inauguradas após muitos anos de demorada construção, desvios de recursos públicos e da prisão de algumas autoridades responsáveis por aquele inútil elefante branco que é uma daquelas obras eleitoreiras e imprestáveis que não servem para absolutamente nada. O ex-governador do Estado, Confúcio Moura, e agora possivelmente candidato, de novo, a alguma coisa vaticinou que a passarela certamente será a atração da capital da fedentina. Disse que o cenário é adequado para fotografias. “Essa passarela será uma de nossas referências. Porto Velho já é reconhecida pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, pelo rio Madeira, e agora pela passarela”, afirmou. Em tempos de campanha eleitoral, a cidade inaugura mais uma obra sem importância para seu sofrido e alienado povo.
Confúcio, no entanto, convenientemente não se lembrou de que a EFMM é hoje um amontoado de ferro velho retorcido apodrecendo vergonhosamente no meio do mato. Muitas locomotivas e peças do acervo histórico desaparecem impiedosamente sob a ferrugem e o olhar complacente e acomodado dos rondonienses mais telúricos e que os galpões da velha ferrovia, a “mãe de Rondônia”, foram invadidos e praticamente destruídos na cheia histórica de 2014 sem que ninguém tivesse sequer a coragem para impedir o avanço lento das águas barrentas do enfurecido rio Madeira. O ex-governador é otimista demais para afirmar que o velho e estuprado Madeira ainda é uma das atrações de Porto Velho. Após as hidrelétricas, as bombas em seu canal e de toda a sorte de agressões e poluição, o rio nem madeiras tem mais em seu assoreado e sujo leito.
A suja e fedorenta capital dos rondonienses não devia ter outro símbolo senão um saco de lixo cheio de tapurus na entrada da cidade devido à total inexistência de rede de esgotos e de água tratada para os seus moradores. Governador nenhum, nem mesmo o Confúcio em seus longos oitos anos de mandato, deu este presente para os porto-velhenses. Até o “açougue” João Paulo Segundo, mote de campanha do ex-prefeito de Ariquemes, não mudou a cara neste período. No início do seu governo, a Globo esteve aqui fazendo matérias sobre o caos na saúde. Mas nada mudou. O único hospital de pronto socorro de Porto Velho em 2011 era uma espécie de campo de concentração onde só se internavam os mais necessitados. Depois, continuou como um campo de extermínio de pobres. Realidade cruel: Quem tem algum dinheiro, quer distância dali.
Em vez dessa absurda “montanha-russa do atraso” que não serve para nada, Confúcio deveria ter melhorado as instalações do João Paulo Segundo, ter construído um verdadeiro Hospital de Pronto Socorro ou mesmo ter investido essa dinheirama toda em escolas de tempo integral. Porém teria um problema: os mais de 500 mil matutos de Porto Velho não veriam a obra e poderiam ficar aborrecidos com o político. Só que sem aquele trambolho ridículo, que não significa coisa alguma, as pessoas continuarão caminhando normalmente. Confúcio sai e ainda nos deixa o velho “açougue” da zona sul de Porto Velho. A sua “Nova Rondônia” foi um fiasco do começo ao fim. E pior que há a terrível possibilidade de se instalar de novo nestas longes terras o “Império da Roça” de Ivo Cassol e sua turma. Enquanto não vem a chuva de merda, tanto um quanto outro deveriam fazer ali no Trevo do Roque uma estátua de cem metros do Jeca Tatu.




*É Professor em Porto Velho.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Eu quero ser pastor!



Eu quero ser pastor!



Professor Nazareno*

            
             Professor há exatos 42 anos, decidi agora mudar de profissão, pois acho que já cumpri com o meu dever. Não seria bem mudar, mas seguir outra faina. Quero ser pastor! De qualquer Igreja. Tenho boa verve e sei que nestas mais de quatro décadas de magistério convenci um ou dois alunos. Mas serei um pastor sem Bíblia, pois não consigo entender como “há milhares de anos, as lendas, mentiras, besteiras, mitos e costumes primitivos de uma pequena tribo de nômades semisselvagens foram reunidos e escritos em pergaminhos e que ao longo dos séculos foram modificados, mutilados, truncados, floreados e divididos em pequenos pedaços que foram então embaralhados várias vezes. Depois, este material foi mal traduzido para várias línguas e vários povos o adotaram como a expressão da verdade, a palavra de Deus definitiva e irretocável”.
            Como pregador da palavra de Deus, entrarei também na política. Votos e apoio sei que terei dos meus poucos seguidores, pois as minhas ovelhas não são negras. Se entrar para o Congresso Nacional, não integrarei o grupo de parlamentares do BBB (Boi, Bala e Bíblia). Lá, darei vazão aos meus ensinamentos mais elementares. Pregarei o Deus de Espinosa e aceitarei todas as tendências políticas e religiosas no meu templo. Direi que Cristo não morreu pregado na cruz como todos acreditam, mas na cidade de Srinagar na Índia e já bem velhinho depois de ter se casado com uma ex-escrava egípcia e ter tido com ela vários filhos. Na minha religião não houve as Cruzadas e muito menos os Tribunais da Santa Inquisição durante a Idade Média. Nela, o verdadeiro Cristo nasceu de uma relação sexual e viveu tranquilamente com seus pais José e Maria.
            A democracia será a pedra fundamental do meu templo. Cada integrante terá vez e voz e poderá pregar a sua própria palavra. Direi aos meus fiéis que o Inferno nunca existiu e que o Diabo é apenas mais uma invenção da Igreja para amedrontá-los. Eles saberão, por exemplo, que Cristo nunca foi cristão, Buda nunca foi budista e Maomé nunca foi muçulmano. Devo também lhes dizer que o dízimo é opcional e que eles nunca mais serão obrigados a pagar quantias para ouvir os outros falarem. Barulho de maquininha de cartão de crédito não será mais ouvido nas minhas abadias. Milagres haverá em meu local de culto e muitos: os políticos brasileiros deverão trabalhar em benefício do povo que o elegeu, roubos ao Erário não mais existirão e Sérgio Moro, o juiz endeusado pela direita reacionária, finalmente julgará todos os políticos do PSDB.
            Em Rondônia poderei abrir muitas casas de Deus, pois aqui o terreno sempre foi muito fértil para o messianismo fútil. Pedirei à classe política que adote durante as campanhas políticas os discursos eclesiásticos para melhor orientar os inteligentes eleitores. Transformarei a Assembleia Legislativa do Estado e a Câmara de Vereadores de Porto Velho em filiais da minha cruzada cristã. Lá haverá cultos e celebrações antes de todas as sessões ordinárias. Entrarei em contato com os donos de sites e também com as redes sociais para melhor difundir minhas ideias religiosas. Todos os integrantes da ala LGBT e afins terão espaço em meus templos. Haverá normalmente casamentos entre pessoas do mesmo sexo e a união estável será aceita tranquilamente. Cantores de Funk e Pagode acompanharão com suas músicas todos os cultos. Venham à minha Igreja, lá ninguém será obrigado a obedecer ao apito longo e breve do poeta Carlos Drummond.





*É Professor em Porto Velho.