sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Um candidato diferente



Um candidato diferente


Professor Nazareno*

De início eu não queria. Fazia até jogo duro para não concorrer, tinha medo e muita vergonha, mas depois de muitas insistências, resolvi me candidatar para presidir o Brasil pelos próximos quatro anos e se tudo der certo também pelos próximos oito. Não sou filiado a nenhum partido político por que entendo que não precisa desta burocracia idiota. Sou independente, óbvio, e represento o povo mais sofrido (já ouvi isso). É uma decisão acertada tendo em vista a minha capacidade para resolver problemas. Votem em mim! Vocês jamais se arrependerão deste grande ato cívico. Prometo de cara criar para todos os funcionários públicos deste país o auxílio-moradia, residam eles ou não em seus locais de trabalho. Vou acabar com todos os programas sociais e aposentadorias e colocar o povo para trabalhar, já que dizem que o brasileiro é muito trabalhador.
Acabarei também com o décimo terceiro, um terço de férias e qualquer outro tipo de licença. E justifico: os escravos ergueram com o seu trabalho e o seu suor um país inteiro sem precisar de nenhuma destas regalias. E receber salário sem trabalhar é um absurdo. Mandarei evangelizar todos os índios que ainda restam em território nacional. Teremos índios dizimistas de agora em diante. Claro, como já falei antes, mandarei trocar a Constituição pela Bíblia e o Estado brasileiro não será mais laico. Intervenção Federal haverá em qualquer um dos Estados da federação. Deu prejuízos, prevaricou, roubou ou gastou mais do que arrecadou será motivo para que o governador seja expulso do cargo e o seu respectivo Estado seja extinto. No caso de Rondônia e do Acre, que deviam ter permanecido como territórios, serão os dois devolvidos à Bolívia.
Todo o meu staff será de fora. Até alguns ministros terão que ter nascido em países civilizados e desenvolvidos como Alemanha, Japão, França ou Estados Unidos. O cerimonial do Planalto, dos Estados e dos municípios só terá funcionário concursado e que demonstrem na prática muita competência para o cargo que ocupam. Todos terão que puxar-saco dos seus respectivos chefes, claro. Além de seguir o pensamento de cada um deles. Nas escolas haverá uma revolução: todos os professores esquerdistas serão sumariamente demitidos. Voltarão as disciplinas de Educação Moral e Cívica e de O.S.P.B e o Hino Nacional será entoado umas cinco vezes por dia para evitar que a nossa bandeira seja vermelha. Os livros didáticos só serão distribuídos após uma minuciosa revisão feita por uma esquipe criada para este fim. E nada de turno integral.
Calma, não se estressem! Carnaval, durante a minha administração, haverá sim. Só que os donos de bandas e dos blocos distribuirão com antecedência sacos para a coleta de lixo. Nada de pagar hora extra para se organizar o que nem todos sujaram. Os responsáveis pela imundície pagarão para limpar as ruas. Na verdade, haverá locais específicos para esses desfiles. Nada de usar espaço público com este fim. Comigo na Presidência o futebol será outro. Seleção do Brasil que não ganhar a Copa será punida. E como castigo maior, os jogadores perdedores terão que morar pelo menos um mês em Porto Velho, capital de Roraima. Assim, saberão o que é viver no fim do mundo. Antes da Copa, uma preleção até que ajudaria um pouco: Cuidado, “Porto Velho lhes aguarda em caso de vergonha extrema”! Comigo na Presidência não tem moleza. Saiam todos às ruas e façam campanha para mim. Por que eu mesmo jamais terei coragem de fazer isto.


              
                 *É Professor em Porto Velho.

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