domingo, 15 de outubro de 2017

Professor sem vergonha


Professor sem vergonha


Professor Nazareno*

            
          O Brasil tem um dos piores sistemas de educação do mundo. A prova disto está na pouca ou nenhuma leitura de mundo de grande parte de sua população. Burrice é mato num país com mais de 207 milhões de pessoas. Muitos alunos, após doze ou treze anos de escola, mal conseguem escrever o próprio nome. As escolas brasileiras de um modo geral formam só analfabetos funcionais. As públicas geralmente “ignorantizam”, sabotam e “desinstruem” seus alunos, e por isso formam uma massa de alienados e imbecis. Já nas escolas particulares, a situação é um pouco melhor: elas formam apenas os gerentes dessa ignorância e dessa imbecilidade. Ao professor, nesse contexto de fundo de poço, cabe pouca utilidade, embora ele seja cantado em prosa e loas pelos políticos e pelos mais “espertos”. Dia 15 de outubro é um dia somente para lamentos.
            Ser professor no Brasil não é tarefa fácil. Há mais de quarenta anos que milito neste batente e sei as agruras da sala de aula. Pouco reconhecido, sem condições de se especializar, mal remunerado e perseguido em todos os flancos, muitos desses “mestres sem mestrado” se equilibram como podem para ganhar a vida. Se um aluno é bom geralmente é por que é muito inteligente e dedicado. Se é ruim, fraco, desleixado e sem conhecimentos pergunta-se logo: quem é teu professor, criatura? No Brasil, onde a família já decretou falência há muito tempo, cabe aos professores a tarefa de ensinar e educar filhos alheios. E professor não é educador. Uma mãe, sozinha, educa por cem professores. Um aluno, sozinho, quando ler e busca conhecimentos vale por cem mães. Mas todos infelizmente “abrem mão” de suas obrigações e esperam só pelo professor.
            Alunos despreparados, mal educados, sem leitura de mundo, muitos deles oriundos de famílias falidas e sem a menor infraestrutura social são a matéria prima destes profissionais já estressados. Raros são aqueles alunos de boa procedência e que dão valor à profissão. Raríssimos são os que admitem querer seguir a espinhosa faina. Médicos, engenheiros, advogados, psicólogos, políticos e até policiais desdenham de seus mestres nesta data ridícula. Dia do professor? Deem refrigerantes e outros açúcares aos miseráveis para que morram mais cedo vítimas de diabetes. Se o mestre cai em desgraça, geralmente muitos de seus ex-alunos se lembram de alguma coisa errada que ele fez lá no passado e logo se candidatam para depor contra o infeliz. Triste, mas muitos pupilos sem caráter sentem uma espécie de prazer ao ver seu ex-mestre na pior.
            Mesmo assim, nenhum professor devia sentir vergonha de sua profissão. No mundo desenvolvido e civilizado, todos eles são valorizados e sua palavra é uma sentença respeitada. No Japão, ele vale mais do que o próprio imperador. Já no Brasil, são muitos os exemplos de professores agredidos por seus alunos. Em muitos casos já houve até morte desses profissionais, que não têm quase nenhum reconhecimento da sociedade. Nas greves, o miserável apanha sem dó da polícia. Os outros aparelhos repressores do Estado também não lhes poupam. Militarização absurda das escolas, implantação do projeto escola sem partido, censura pura e simples a livros escolhidos por eles, como aconteceu em Ariquemes, dentre muitas outras excrescências é o que se tem visto. Piedoso, criou o Conselho de Classe só para aprovar alunos ineptos. Não é fácil lidar com educação num país de povo imbecil e sem instrução. Mas não desisto!




*É Professor em Porto Velho.

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