domingo, 17 de setembro de 2017

Eu te amo, censura!


Eu te amo, censura!


Professor Nazareno*

           
             Muita gente nem percebeu ainda, mas o Brasil está vivendo tempos bicudos e muito preocupantes em relação à liberdade de expressão, embora se diga abertamente que estamos em uma democracia. Com o golpe dado na presidente Dilma Rousseff pelo atual presidente Michel Temer e sua turma, os covardes ataques à criatividade artística, científica e intelectual aumentaram perigosamente no país e os arautos da ignorância e das trevas não perdem a chance de mostrar suas garras. Porém o artigo quinto da nossa Constituição afirma que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. E continua: “são, portanto, invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
            A nossa lei maior, portanto, proíbe qualquer tipo de censura política, ideológica ou artística. Mas não é isso que estamos presenciando. O museu do Santander Cultural em Porto Alegre foi fechado e a exposição Queermuseu foi cancelada após ataques registrados nas redes sociais e no interior do próprio museu. Em comunicado, a instituição afirmou que "o objetivo do Santander é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia". A exposição entrou em cartaz e logo após foi vetada. Depois de Porto Alegre, outra obra de arte também foi censurada: a artista Alessandra Cunha teve uma de suas telas expostas em Campo Grande/MS confiscada pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança sob a acusação de incentivo à pedofilia. Ora, ninguém é obrigado a visitar uma exposição.
            Em Rondônia, por exemplo, caminha a passos largos a militarização de várias escolas estaduais sob o ridículo pretexto de melhorar a disciplina nas mesmas. Esse fato, no entanto, esconde o desejo latente e a mentalidade golpista e ditatorial de implantar nestas mesmas escolas regras equivalentes às da feroz ditadura que vivemos entre 1964 e 1985. Tivemos também o recente caso de Ariquemes, quando o Prefeito Thiago Flores proibiu a distribuição de livros didáticos nas escolas do município. Crime desses livros: falavam sobre a existência da diversidade de gênero, dos novos tipos de família e da existência de homossexuais. A censura e o obscurantismo são geralmente defendidos por religiosos inescrupulosos e por pessoas tapadas, sem leitura de mundo que se acham os donos da verdade. Triste: a Idade Média quer vigorar de novo. Estamos regredindo.
            Muitos facínoras adoram a proibição. Lula, que se diz de esquerda, não perde a chance de atacar a mídia para tentar encobrir suas falcatruas e ladroagens. Em Rondônia muitos internautas gostariam que eu não produzisse mais meus textos. Sem nenhuma importância literária, o que escrevo apenas procura mostrar a sofrida realidade a que os políticos nos submetem há tanto tempo. A blogueira e jornalista Luciana Oliveira de Porto Velho sofre o “pão que o diabo amassou” por causa de suas publicações. Nada pode ser censurado em uma sociedade moderna. Se alguém denegrir a imagem do outro, que pague pelo dano cometido. Por que me aborrecer se dois homens vivem juntos? Por que me incomodar se o outro não segue a minha religião? As pessoas não são iguais e a riqueza está na diferença. Arte é arte. E livros não podem ser queimados, como fizeram os Nazistas. Mais uma vez o ovo da serpente está chocando entre nós. Estou com medo.





*É Professor em Porto Velho.

Nenhum comentário: