quinta-feira, 9 de julho de 2015

Eu, prefeito de Porto Velho?



Eu, prefeito de Porto Velho?
Professor Nazareno*

O ex-prefeito de Porto Velho e talvez futuro candidato ao cargo, suplente de senador e advogado Odacir Soares, afirmou recentemente que a nossa cidade precisa de uma revolução de competência. Disse também que o muito dinheiro que vem para fazer benfeitorias na capital volta por falta de projetos. Se fosse por isso, administrar Porto Velho seria uma das tarefas mais fáceis no mundo. Não gosto da política, mas eu, o odiado Professor Nazareno, até que gostaria de ser prefeito daqui, já que vejo muitas coisas erradas e por isso tenho condições de transformá-la numa cidade bem melhor. E a tarefa é fácil mesmo, uma vez que para onde se olhe, há problemas que quase não se veem em outro lugar. Acho que estava equivocado quando outro dia propus o slogan “Desista de Porto Velho” em oposição ao outro falido mantra: “Abrace Porto Velho”.
Eleito autoridade maior da capital dos “destemidos pioneiros”, começaria logo mandando retirar o adjetivo “Internacional” que está equivocadamente grafado na fachada do aeroporto da cidade, já que não se pode conviver com mentiras públicas. A seguir, determinava a destruição completa da Praça das Três Caixas d’Água, que todos acham ser o símbolo da cidade. Feias, tortas, velhas e na iminência de cair e matar pessoas inocentes, “os trambolhos pretos” não despejariam mais ferrugem no meio da rua. Além do mais, naquele local bem que poderia existir uma nobilíssima favela. A lendária Estrada de Ferro Madeira Mamoré seria definitivamente extinta. O que restasse de trilhos seria doado para os moradores proteger a frente de suas casas. As locomotivas que ainda estão inteiras seriam todas transformadas em ferro-velho e vendidas a quilo.
Na arborização, eu como prefeito, inovaria. Arrancava as poucas árvores da cidade e mandava plantar só louro-bosta em todas as praças e avenidas. Já pensou a fragrância todo final de tarde? A cidade toda cheirando a merda seria um deslumbre só. Por isso, o pouco de esgoto sanitário que ainda existe por aqui eu mandaria desmanchar para combinar com o fétido ambiente. O Espaço Alternativo, na minha administração, seria totalmente modificado. A partir de então determinava a cobrança de ingressos para quem fizesse uso do mesmo e todo o dinheiro arrecadado seria doado aos políticos. A ponte escura do rio Madeira, claro, seria implodida. Quem quiser cruzar o “Madeirão” que o faça nadando mesmo, já que natação faz bem à saúde. Os viadutos ficariam intocáveis. Eles seriam uma singela homenagem a nós, os políticos e as autoridades.
Na área do transporte coletivo não precisaria mudar nada: não se mexe no que está bom. Eu só aumentaria o valor da passagem. As duas inúteis hidrelétricas seriam desmanchadas, já que o preço da nossa energia só aumenta. Banda do Vai Quem Quer, Arraial Flor do Maracujá, Expovel dentre outras “grandes manifestações de cultura” seriam incentivados comigo. Criaria também a Univel, Universidade de Porto Velho, pública e ligada ao município. Para lá só contrataria professores da Unir, a “outra universidade”. Óbvio que eu administraria a capital sem a Câmara Municipal, afinal não se sabe mesmo para que serve um vereador. Faria uma enorme estátua do Jeca Tatu para simbolizar a cidade. E como sou de família só de gente honesta, “os meus” seriam todos contratados pela Prefeitura para melhor servir aos munícipes. O maior problema, no entanto, seria eu mesmo: como morar num lugar em que as pessoas votaram em mim?




*É Professor em Porto Velho.

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