sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Brasil: governos sem oposição


Brasil: governos sem oposição

Professor Nazareno*

            No Brasil, de um modo geral, é fácil governar o povo. E levando-se em consideração o nível intelectual da maioria de sua população, essa tarefa fica ainda mais amena. Já faz até parte da História deste país a formação de governos, democráticos ou não, que administram tranquilamente sem serem importunados por ninguém. Bem diferente de nações civilizadas como os Estudos Unidos, por exemplo, onde democratas e republicanos se revezam no poder há tempos, um desses partidos quando não está governando o país, fiscaliza o outro. Na maioria dos países da Europa também não é muito diferente. O nível é tão alto que nações como Noruega e Suécia, que é uma monarquia, criaram a figura do ombusdman, uma espécie de vigilante do governo, pago com dinheiro do próprio Estado para fiscalizar as ações do governante de plantão.
            No Brasil, os governantes quase não têm oposição. Mesmo durante a Ditadura Militar, que caiu de madura, não houve oposição no sentido literal da palavra. A meia dúzia de opositores como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Dilma Rousseff, Lula, José Dirceu, dentre alguns outros, nunca fizeram oposição de verdade. Queriam apenas o poder a todo custo. Fato que depois acabaram conseguindo para jogar o nosso país nesta situação que vemos agora. A Dilma está terminando o primeiro mandato e até hoje não teve nenhuma oposição. José Serra, que disputou o segundo turno com ela em 2010, só apareceu agora em 2014 para pedir votos aos paulistas. Uma única palavra nestes últimos quatro anos não foi pronunciada pelo “líder da oposição” que terminou o ano sendo eleito senador pelo Estado de São Paulo. Onde ele estava? Por que se calou?
            Sem oposição séria e vigilante, muitos governantes metem a mão no Erário sem medo algum. Roubam tudo o que podem sem acanhamento. Ministério Público e Polícia Federal fazem mais oposição no Brasil do que qualquer político. Aqui, depois da eleição, o perdedor só aparece quatro anos depois, geralmente entre julho e o dia da votação para pedir votos de novo e só aponta os defeitos do governante de plantão durante o curto período do pleito. Confúcio Moura disputou o governo de Rondônia em 2010 com João Cahulla. Mauro Nazif, o “fracassado” prefeito de Porto Velho disputou o segundo turno em 2012 com Lindomar Garçon. Nem o senhor Cahulla muito menos o Garçon, como líderes naturais da oposição, fizeram absolutamente nada para criticar os governantes. Confúcio e Nazif mandam e desmandam sem ninguém lhes importunando.
Sem oposição, o resultado de quem governa é este que estamos vendo diariamente nos noticiários policiais de Rondônia e do Brasil. Numa eleição entre dois concorrentes, naturalmente o vencedor governa e o perdedor fiscaliza apontando os erros, as maracutaias e até as virtudes, mas no Brasil todos só querem governar. Ninguém quer sofrer o desgaste de ser oposição. O Poder Legislativo, em todas as esferas, e o povo é quem devia fiscalizar tudo. Só que o cidadão comum é burro, tapado, alienado e não entende nada da política. Já o Legislativo geralmente é comprado pelo Executivo e apoia toda a cachorrada. A Câmara de Vereadores de Porto Velho jamais tiraria Nazif do poder. A Assembleia Legislativa de Rondônia nunca tirará Confúcio do governo. Muito menos o desprestigiado Congresso Nacional votaria o impeachment de Dilma. Agindo assim, todos perdem: o Brasil, o governo, a oposição e nós, o povo.




*É Professor em Porto Velho.
 

Um comentário:

Mineirinho, uai! disse...

Fessor, bênça! Houve uma inciativa de se criarem os Conselhos Municipais em várias áreas da administração. Infelizmente o que era inicialmente uma oportunidade de nós, como membros da comunidade, participarmos das discussões e diretrizes da administração tornou-se um fantoche, manipulável e inócuo. Enquanto as novelas da globo tiverem essa audiência contra a audiência pífia de canais educativos, como acreditar que teremos oposição? Não discutimos, não nos organizamos. E quando há iniciativas nesse sentido, alguém quer brasas na sua sardinha.