domingo, 7 de setembro de 2014

A nação do patriotismo pré-datado




A nação do patriotismo pré-datado

Professor Nazareno*

            Sete de setembro. Os brasileiros alegres e eufóricos não escondem o largo sorriso estampado no rosto. Ninguém consegue se desvencilhar da alegria, do otimismo e do entusiasmo latente neste momento. Próximo aos postes de energia, as ruas são enfeitadas com bandeirolas verde-amarelas. Asfaltos, calçadas e meios fios são todos pintados em tons nacionais. A bandeira do país está garbosamente hasteada por toda parte. Os carros estão quase todos decorados com o Pavilhão Nacional. Algumas casas também seguem o ritmo frenético do patriotismo explícito e por meio de seus nacionalistas proprietários esnobam o seu incondicional amor ao país. No comércio não se vê outra coisa senão os funcionários vestidos orgulhosamente com roupas ostentando as cores nacionais. Escolas fazem suas atividades de forma que só lembram a nação.
            Igrejas, hospitais, cadeias, repartições públicas, empresas privadas. Todos, nesta nobre ocasião estão irmanados em demonstrar o quanto amam e veneram a Pátria. O desfile é o ponto alto deste momento único. A multidão aplaude interminavelmente as suas autoridades constituídas. O risonho e aclamado Prefeito da cidade, acompanhado do seu vice, não esconde a sua alegria e quando pede para falar é várias vezes calado e interrompido pelos aplausos ensurdecedores e pelos gritos de euforia dos espectadores. O Governador do Estado, junto ao seu secretariado, também é ovacionado de forma calorosa e estridente pela plateia delirante. Várias autoridades da cidade e do Estado como Vereadores e Deputados Estaduais se revezam na preferência do povão. Todos querem ouvir as sábias palavras de seus amados, probos e gloriosos representantes.
            No Brasil, o dia da Independência, data maior da pátria, é assim: uma festa só. As ruas, decoradas para esta ocasião ímpar, estão sempre limpas e asseadas. Após os desfiles, continuam mais limpas do que antes de começar a festa e por isso não se encontra um único vestígio de lixo ou imundície. Cantam-se hinos “a capela” a todo instante. O hino nacional e também “Céus de Rondônia”, por exemplo, são entoados espontaneamente pelos transeuntes. Nesta data não se ouvem outras músicas. Crianças vestidas a caráter desfilam para a alegria de seus pais, que fazem coraçõezinhos com as mãos. Emocionados, alguns choram de alegria. Os garotos pisam tão forte no compasso do bumbo que só faltam afundar o solo. Para delírio geral, as Forças Armadas mostram suas vestes impecavelmente passadas e suas armas letais. Brasil, uma potência de nação.
            É visível numa hora destas, o orgulho de ser brasileiro estampado no rosto de cada uma das pessoas que vão aos desfiles cívicos. Nosso arraigado e belo patriotismo não é, como muitos críticos equivocadamente afirmam, apenas com a seleção de futebol na Copa do Mundo. É profundo demais e dura quase um mês ou até mais. Nossas honras e glórias, tão condizentes com a nossa História, estão respaldadas e estampadas em nossa linda bandeira, já que o ouro, o céu e as matas são frutos apenas do nosso trabalho e da nossa força enquanto povo batalhador que sempre fomos. E o nosso Brasil, nossa pátria amada, ergue-se heroicamente nesta data cívica, dos mentirosos e inexistentes estados de miséria, de fome, de prostituição, de abandono, de corrupção, de roubo, de discriminação, de desemprego, de alienação e de tantas outras coisas mais. Por tudo isso, ainda arrepiado e quase chorando de fortes emoções, viva o “brasil”!




*É Professor em Porto Velho.

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