quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ovo de serpente prestes a chocar



Ovo de serpente prestes a chocar


Professor Nazareno*

          Estou com muito medo mais uma vez: o espectro da censura volta a rondar perigosamente o país. Mesmo não sendo, por enquanto, algo oficial e que por isso não tem nenhum respaldo moral uma vez que a própria Constituição Brasileira, no seu artigo quinto não permite, há várias escaramuças nesse sentido vindo exatamente das entranhas do próprio Governo do PT, de partidos que lhe dão sustentação como o PSOL e o PC do B e de boa parte da opinião pública alienada e manipulada por interesses escusos. Como se não bastasse a absurda tentativa de se criar uma espécie de Conselho Regulatório da Imprensa, ideia acalentada pelo ex-presidente Lula, eis que agora surge com mais força ainda o desejo de calar à força (pelo menos econômica) as poucas vozes destoantes numa democracia que foi conquistada “há pouco tempo e a muito custo”.
A volta da censura só interessa a dois tipos de pessoas: logicamente àqueles que dela se beneficiam e aos ingênuos, a grande maioria dos brasileiros, que ainda acreditam que o Estado só a usaria para alguns poucos fins. Vários casos têm sido verificados no país inteiro ultimamente e que justificam o nosso presente temor. A começar pela aprovação do Marco Civil da Internet e da demissão sumária do jornalista Paulo Eduardo Martins, comentarista da Rede Massa, afiliada do SBT no Paraná. Paulo Eduardo é um crítico ferrenho do governo Dilma e também do PT. Seus ácidos comentários irritaram a cúpula petista naquele Estado e também em Brasília, e o canal de televisão paranaense foi ameaçado de perder todas as verbas publicitárias oficiais. Boatos afirmam que a Rede Massa já teria voltado atrás e recontratado o profissional.
Porém, o caso mais emblemático e que causou uma espécie de comoção nacional foi o “cala boca” imposto pelas autoridades de Brasília à jornalista paraibana Raquel Sheherazade do SBT. Âncora do jornalismo da emissora de Sílvio Santos, Sheherazade nunca poupou críticas contundentes ao Governo Federal e sempre tinha opiniões polêmicas sobre os mais variados temas incluindo política de direitos humanos e justiça com as próprias mãos. Para falar a verdade, nunca concordei com pelo menos 90 por cento das opiniões da jornalista, sempre achei sua posição ultrapassada e anacrônica, mas censurá-la em pleno regime democrático é um absurdo maior ainda. Para quem não concordasse com as teses da comunicadora, o uso do controle remoto seria a melhor arma. Proibida (financeiramente) de dar opiniões, ela agora somente vai ler as notícias.
O medo se justifica ainda mais porque vários artistas nacionais como Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Djavan dentre outros, que ganharam fama e notoriedade combatendo a censura, os desmandos e a feroz Ditadura Militar, recentemente “mostraram as unhas” no caso da proibição das biografias. Quem lutou contra os ditadores chegou ao poder denunciando tudo o que está fazendo agora. A censura é um perigo, uma excrescência, uma anormalidade. Tudo começa com “o filme que para uns pareceu agressivo; a novela com cenas picantes; o político da oposição; o texto que critica as autoridades. Começa-se aceitando que alguém seja censurado, seja calado à força. Depois, não há mais como segurar as consequências desse ato”. O ovo da serpente não pode eclodir, pois teremos a volta das trevas. Ainda no Século Dezoito, Voltaire, famoso iluminista francês, deu-nos uma grande lição sobre Liberdade de Expressão que, parece, não foi aprendida por muitos brasileiros deste século. Será que ainda vivemos num tempo antes do Iluminismo? Deus nos livre de mais esta desgraça.



*É Professor em Porto Velho.

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