quinta-feira, 7 de julho de 2011

A natureza de Rondônia está se acabando...




Espelhos e Miçangas em Troca da Natureza

Professor Nazareno*

A vinda de um Presidente da República (Presidenta) a Rondônia, província distante e atrasada, é a coisa mais rara do mundo. Poucos foram os mandatários da nação que tiveram coragem suficiente para “apoitar” em terras Karipunas. Como são autoridades nacionais, só vêm aqui a negócio. Dificilmente pernoitam no lugar e mais rápido do que chegam, voltam imediatamente para os seus afazeres na capital do país. Dilma Rousseff trouxe boas e más notícias: dentre outras coisas, veio ajudar na “morte” do nosso lendário rio Madeira e mostrar o que tinha para compensar um dos maiores crimes ambientais da História da humanidade: um “trem da alegria” bancado com o dinheiro do restante do Brasil e que espera, com isto, calar para sempre qualquer voz destoante. Porém, se a nossa Presidente tivesse ficado uns dias a mais por aqui, certamente poderia ter observado muitas coisas bisonhas nestas terras distantes. Uma estada inesquecível para uma pessoa com o bom gosto que ela deve ter.
Claro que Rondônia não tem absolutamente nada de interessante para se ver. Muito menos Porto Velho, a sua imunda e cara capital.  Mas os assessores da Presidente poderiam tê-la levado para assistir pelo menos durante uma noite ao Arraial Flor do Maracujá. Coitada da nossa Presidente: não haveria castigo pior para uma autoridade. Certamente ela sofreria mais do que nos tempos em que foi guerrilheira na inóspita região do rio Araguaia. Além do calor infernal capaz de assar qualquer cristão e de toda a sorte de incômodos, ela poderia perguntar por que a cultura local não tem nada de original: muito melhor do que isso se poderia ver em Parintins, Caruaru ou qualquer outro lugar do país sem ter que “doar seu sangue para carapanãs”.  Além do mais, onde a nossa mandatária maior ficaria hospedada? Se não ficasse na Base Aérea da cidade, lugar hospitaleiro e aprazível, optaria por um dos muitos hotéis daqui e, a preço de um cinco estrelas de Dubai, passaria a noite numa espelunca qualquer com direito a curuba, chatos, carrapatos e mucuins. Como tem muita sorte, livrou-se do pior.
Roberto Sobrinho, o nosso JK e mandatário maior da cidade, teria dado as boas vindas “à companheira”. Que tal começar mostrando a obra dos viadutos? “É a tumba do PT de Rondônia”, informaria o nosso Prefeito. Dilma ficaria encantada com tanta competência. Não fosse a poeira e a insuportável catinga que exala das fedorentas ruas da cidade, a nossa Presidente teria observado sem problemas o que fizeram com os mais de 700 milhões de reais do dinheiro do PAC que fora destinado para dar “cem por cento de saneamento básico e água tratada para a capital dos rondonienses”. Lições de como se administra bem o suado dinheiro do contribuinte certamente ela levaria para, quem sabe, empregar no país inteiro. A urbanização da Vieira Caúla, do porto da cidade, a arborização das ruas e tantas outras obras inacabadas ou superfaturadas certamente encantariam a nossa Presidente. Claro que ela gostaria de saber também como se governa um povo usando apenas um blog e a mágica de se formar um Governo sem um único cidadão ficha-suja. Talvez ela quisesse importar muitos dos nossos políticos honestos.  Na Câmara de Vereadores entenderia o que é fidelidade canina ao Executivo.
Se Dilma sofresse qualquer mal-estar, teria o Hospital João Paulo Segundo para resolver o problema. Centro de pesquisa e referência no Brasil inteiro no tratamento de qualquer patologia, este conceituado hospital certamente teria sido elogiado pela nossa Presidente e por toda a sua equipe. No entanto, ela ficaria confusa por não entender como mais de um milhão e seiscentas mil pessoas podem ser tão burras e idiotas a ponto de trocar seus recursos naturais por espelhos, miçangas e quinquilharias. Confusa, ela perguntaria por que a energia gerada nas usinas do Madeira não vai ficar por aqui. “Vossa Excelência já selou o destino deste rio idiota”, diria sussurrando um rondoniense nativo com várias contas bancárias e rindo à toa por causa de uma tal isonomia e de uma transposição. “Isso só serve para jogar o nosso esgoto nele”, completaria o desdentado “maninho” e agora ex-beiradeiro. Ainda sem entender muita coisa, Dilma perceberia que as palavras do matuto fazem parte do repertório de esquisitices que certamente lhe disseram encontrar somente neste fim de mundo mesmo.
No canteiro de obras das usinas, a nossa Presidente veria como funcionam bem as leis trabalhistas do país que governa. O exemplo de Jirau é emblemático. Entenderia por que é importante um Estado pobre dispensar de grandes empresas pelo menos 600 milhões de reais em ICMS. À noite, poderia ir ao Campus da Unir para se deleitar com a excelente iluminação na parte da rodovia que fora recentemente duplicada. No ambiente universitário, debateria sobre qualquer tema com os muitos intelectuais e sábios que lecionam por lá. Quantas lições de improbidade a Fundação Rio-Mar não teria para a nossa Presidente? Ela visitaria também a “ponte do absurdo” e constataria “in loco” como os rondonienses são dementes e usam milhões de reais do dinheiro público para ligar o nada a coisa alguma. Tudo isto em vez de criar centros de pesquisas, escolas de excelência, hospitais decentes e boas universidades públicas para educar melhor os nossos jovens. Sem o menor senso de administração pública, nossas autoridades e governantes, talvez descompromissados com o futuro, jogam dinheiro e oportunidades no lixo. Se a Presidente Dilma não vier mais vezes a Rondônia, outros virão certamente. Óbvio que ainda há muito o que se levar daqui. Temos, ainda, a floresta, o Vale do Guaporé, o Cerrado, outros rios, a Chapada dos Parecis e tantas outras coisas que a natureza nos deu. “Quem nos dá mais?”





*É Professor em Porto Velho.

Nenhum comentário: