terça-feira, 30 de novembro de 2010

E Porto Velho não muda mesmo...


Porto Velho: Modernidade com Velhos Hábitos (02)


Professor Nazareno*


Já ouvi muita gente dizer que Porto Velho não é o fim do mundo. Pode até não ser, mas que por aqui acontecem coisas do "arco da velha", não há dúvidas. Embalada pela construção das duas usinas hidrelétricas para a produção de energia apenas para beneficiar os Estados do Sul do país e sem ganharem absolutamente nada em troca, muitos dos habitantes locais se orgulham deste feito absurdo. Com uma população de aproximadamente 426 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE, o fato é que em pleno século vinte e um a capital dos rondonienses ainda é uma cidade brega, mal planejada, suja, cara e que não oferece quase nada de moderno para os seus moradores. Se sair daqui resolvesse algo, acredita-se que muita gente já "tinha picado a mula". Muitas autoridades, filhos daqui mesmo, já moram fora do Estado faz tempo.

Conhecida orgulhosamente como a "Cidade das Hidrelétricas", talvez não haja no país uma capital onde a falta de energia seja uma constante. Todo santo dia praticamente os porto-velhenses têm de conviver com os irritantes apagões. Bairros inteiros ficam às escuras até por mais de 20 horas. Choveu, falta energia. A Ceron (Conseguimos Escurecer Rondônia) mudou de nome, só de nome mesmo. Mas se ligar no 0800, atendem direto do Rio de Janeiro. Não é incrível? E como presente pela incompetência, 10,60% de aumento para nós, otários consumidores. Para os outros, tudo. Para os rondonienses, nada. Apenas a grande e irreversível devastação do nosso já desgastado meio ambiente. Esses péssimos serviços têm como aliados os arroubos telúricos de meia dúzia de tolos que parecem não conhecer lugares mais civilizados.

Em Porto Velho, as transmissões de televisão ainda são feitas do modo tradicional. A maioria das capitais e cidades de grande porte já convive com esta tecnologia há mais de dois anos. TV digital é um mimo inacessível para muitos porto-velhenses. Apenas uma única emissora já se livrou da imagem analógica. Pior: quase toda a programação exibida pelas principais redes de televisão são gravações que os telespectadores vêem uma ou duas horas depois que já passarem no resto do país. Bancos existem na cidade e também há caixas eletrônicos. O gozado é que nos finais de semana eles quase nunca funcionam. A Internet daqui é lenta demais e enquanto muitas cidades já a têm grátis e rápida, aqui se paga uma fortuna. E não presta. Nós estamos acomodados achando que "Em Rondônia é assim mesmo...". E não é. Nós é que deixamos ser.

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de Porto Velho é uma piada. Geralmente entrega as contas de final de mês com dois, três ou mais dias de atraso. O cidadão de Porto Velho, que paga seus impostos em dia, sofre "o pão que diabo amassou" se não quiser quitar suas contas com juros e correção. Pela Internet é quase impossível: além da lentidão, sempre há cabos de fibra ótica sendo consertados. Nos caixas eletrônicos não há muita condição, pois eles estão sempre fora do ar ou com saques indisponíveis. Nas lotéricas é muito difícil por que há muita falta de energia e também muita gente sempre "fazendo uma fezinha". Não basta ter as coisas que o mundo civilizado tem, é preciso que elas funcionem e dêem garantias ao cidadão. A violência crescente, o alagamento das ruas, o alto preço da carne e uma penitenciária para abrigar os bandidos perigosos do Rio de Janeiro é o que nos fazem semelhantes ao Sul do país.

O Transporte coletivo daqui é um caos completo. Duas horas é o tempo médio de espera em cada parada de ônibus. Isso numa cidade que é do tamanho apenas de um bairro de porte médio de São Paulo. As autoridades tentaram resolver o problema criando o serviço de mototáxi e construindo viadutos que ainda estão inacabados e algumas passarelas que só servem para serem observadas quando os transeuntes passam por baixo delas. Alugar uma casa imunda ou um apartamento sujo por aqui é mais caro do que um flat à beira-mar ou na paradisíaca Serra Gaúcha. O único Shopping Center da cidade ainda tem uma madeireira no pátio e é um lugar moderno, mas que convive com assaltos e até mortes. Esta madeireira é a síntese da Porto Velho atual: a modernidade chegou, está ali bem ao lado, mas tem que conviver com o velho e o ultrapassado. E tudo isto por que disseram que isto aqui ia mudar. Está mudando sim, mas para pior.


*Leciona em Porto Velho.

11 comentários:

Forasteiro do Sul disse...

Esta perfeito o texto!!!!!

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Tarlei Pordeus Barboza disse...

A modernidade impera no estado. Hidrelétrica, prisão federal, aluguéis residenciais absurdamente caros. O sistema político é uma piada. Democracia e modernidade andando lado a lado.

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Victor Carvalho disse...

PARABÉNS PELO TEXTO!!! Reflete a nossa exata realidade... Infelizmente!

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Josemar Freire Botelho disse...

Pois é professor mais um texto tecendo severas críticas a Porto Velho. Infelizmente tenho que dizer que em parte concordo com todas elas. Goistaria de saber porque bancos como o ITAÚ não disponibilizam saques durante os fins de semana nos caixas eletrônicos. É uma raridade. O senhor esqueceu de falar do Hospital (açougue) João Paulo Segundo que é uma vergonha para Rondônia e para todos nós e também do atendimento que temos observado na maioria das nossas lojas de departamento. Muita coisa precisa mudar por aqui. Infelizmente.


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Laila disse...

Parabéns Prof°, ninguém havia expressado tão bem a situação de caos em que nos encontramos.


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Ivanilson Frazão Tolentin disse...

Mais uma vez, Obrigado Professor Nazareno por mais essa pérola sobre a realidade de nosso sofrido povo rondoniense e, em especial, os portovelhenses. Só faltou, acrescentar um páragrafo para a questão da saúde. Aliás, a situação do João Paulo é de espantar qualquer soldado de país africano em guerra. Exageros aparte, a situação é lamentável. Um abraço direto das Highlands!

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Jorge Santos disse...

PROFESSOR NAZARENO, OUTRO DIA EU COMENTEI SOBRE VOCÊ EM UMA MATÉRIA DO RONDONIAOVIVO QUE HAVIA UMA RELAÇÃO DE CONCURSOS BRASIL AFORA. POR QUE VOCÊ NÃO FAZ ESSES CONCURSOS PARA AS CAPITAIS MAIS DESENVOLVIDAS COMO POR EXEMPLO, O RIO DE JANEIRO? LÁ VOCÊ VAI PODER CORNETAR A RESPEITO DO TRÁFICO DE DROGAS NA FAVELA DO ALEMÃO, DA CORRUPÇÃO QUE TBM ACONTECE POR LÁ, DAS IMUNDÍCIES NAS FAVELAS, IGUAIS AS QUE VOCÊ VÊ AQUI. TALVEZ VOCÊ POSSA MUDAR ALGUMA COISA POR LÁ COM SEUS ARTIGOS, VOCÊ PODE SOLUCIONAR OS PROBLEMAS DAS ARMAS E DROGAS QUE TANTO ATERRORIZA A POPULAÇÃO! NA RELAÇÃO DE CONCURSOS TBM TEM SÃO PAULO, TALVEZ VOCÊ POSSA ENSINAR A POPULAÇÃO A VOTAR, ELEGERAM UM ANALFABETO PARA DEPUTADO. SE EU FOSSE VOCÊ, INTELIGENTÍSSIMO, FARIA CONCURSO PRA LÁ, NINGUÉM SENTIRÁ SUA FALTA!!!

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Alysson Lopes disse...

Parabéns professor Nazareno. Texto digno de reverência. E quem não gosta de críticas e está conformado com o retrato da nossa capital, que se recolha a sua falta de postura e deixe a imprensa e seus colunistas nos presentar com seus textos sensatos e que nos remetem à reflexão. A verdade há de ser dita, doa a quem doer. Um brinde à matéria e a quem gosta da verdade!!

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Heliene disse...

PARABENS PROFº. O SENHOR RETRATOU FIELMENTE A FALTA DE QUALIDADE DE VIDA DOS CIDADÃOS PORTOVELHENSE, SO QUEM NAO QUER VER A VERDADE É QUE IRA LHE CRITICAR, SOU DAQUI, MAS RECOLHEÇO O DESCASO DOS NOSSOS GOVERNANTES COM A CIDADE. OBRIGADA PELO TEXTO .

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Junior disse...

ééé a dura realidade... pelo menos é um ótimo lugar pra se ganhar dinheiro

q6gq disse...

Moro em um apartamento "novo" na Abuna com água contaminada.

Porto Velho é um caos mesmo.