sábado, 17 de outubro de 2009

Vamos encarar mesmo o progresso?


Vamos perder o bonde da História


Professor Nazareno*


Há um bom tempo que não se ouve falar de outra coisa em Rondônia: com as obras do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, o dinheiro está “entrando a rodo” no nosso Estado. E é até possível observar na capital como o volume de obras pode ser uma demonstração da veracidade deste pensamento. Há realmente muitas construções sendo tocadas e muitas outras já projetadas: construção do CPA, Centro Político Administrativo, duplicação da BR 364, asfaltamento de algumas ruas e avenidas, construção de viadutos e passarelas, melhoria no saneamento básico de vários bairros, água encanada onde antes só havia poços, dentre outras.

Obras estas que os habitantes podem ver, se deslumbrar e acreditar que o dinheiro está sendo bem empregado pela classe política. Todo mundo fica feliz, fala em progresso e desenvolvimento, se enche de ufanismo bobo e alardeia para os quatro cantos do mundo que aqui se trabalha, que os nossos políticos são os melhores do mundo. Ledo engano: claro que toda cidade necessita de obras de infra-estrutura e como em Porto Velho falta tudo nesta área qualquer gambiarra é sempre bem-vinda. Mas será que esse dinheiro está realmente sendo bem empregado? Houve algum tipo de consulta popular para isso? Ou este dinheiro também está sendo “gasto a rodo”?

O CPA era uma necessidade, todos concordam. Mas não entendi por que os prédios, se vistos do alto, formam as letras ‘I’ e ‘C’. Erros de projetos ou simples culto à personalidade? Mas é bom, assim não haverá a necessidade de colocar nome de político oportunista na construção, pois o povo daqui não sabe nomear de forma coerente os seus monumentos. Já os viadutos parecem ser mais uma tolice de quem quer mostrar serviço. Problemas de trânsito se resolvem com abertura de mais ruas para escoamento de carros, com mais sinalização, retornos e principalmente a melhoria no sistema de transportes coletivos. Parece até que os rondonienses querem ver nomes de políticos nas obras.

Mais do que obras faraônicas, o nosso Estado precisa de educação e cultura. Precisa investir em seu futuro, precisa se precaver da ressaca que fatalmente virá com o término destas construções. Os ciclos da borracha, do ouro, da cassiterita vieram e se acabaram deixando apenas conseqüências nefastas. Devíamos ter aprendido alguma coisa. Com toda esta grana, quantas universidades estaduais ou mesmo municipais poderiam ser criadas? Poderíamos criar centros de pesquisas voltados para a demanda do mercado interno e escolas para formar mestres e doutores. Se hoje há dinheiro, devíamos sim, pensar no futuro com vários campi universitários espalhados pelo Estado.

Só que estamos seguindo o exemplo da Venezuela, que está perdendo uma excelente oportunidade de se transformar em uma grande potência regional com o dinheiro do petróleo. Já a Coréia do Sul e o Japão investiram tudo em educação e cultura e em menos de 30 anos já estavam colhendo os frutos. Rondônia e os rondonienses estão mais para a rompança latino-americana do que para a visão de mundo e a disciplina oriental. Qualquer universidade de fundo de quintal seria melhor do que a Unir. E se faltar bons profissionais, viriam os de fora para nos ajudar a não perder mais este bonde da História.


*Leciona em Porto Velho

4 comentários:

Valdemar Neto disse...

"O CPA era uma necessidade, todos concordam. Mas não entendi por que os prédios, se vistos do alto, formam as letras ‘I’ e ‘C’. Erros de projetos ou simples culto à personalidade?"

Ivo Cassol nem um pouco narcisista, hein?

Joice Brandão disse...

"Uhmmm... Tô gostando de ver!"
Quase não xingou ninguém dessa vez e fez um texto deveras coerente.

"Viva o Progresso!"
Aff

Anônimo disse...

*

Christianne Mendonça - 19/10/2009

Prezado Professor Nazareno, É com prazer que digo: fui sua aluna! Aliás, tive excelentes professores. A maioria destes na rede pública de ensino. Que nos ensinaram muito mais do estava descrito nas ementas das disciplinas. Uma destas coisas "adicionais" que aprendi com meus professores foi o questionar, testar meu ponto crítico, expor o que vejo e sinto. E é por este "olhar" crítico que lhe digo, ora ora, prezado professor e demais leitores, vejamos o nome completo do nosso governador... explica tudo. Ele é NARCISO! Um grande abraço,

Anônimo disse...

ronne charles

"Qualquer universidade de fundo de quintal seria melhor do que a UNIR."
Nazareno, entendi exatamente a colocação da sua frase em seu artigo, principalmente pelas precariedades que lá existem e que perduram e que não precisamos aqui falar pois além de serem óbvias, são até cretinas. Só que agora estou admirando a sua coragem em empregar essa frase, principalmente sendo o senhor um professor muito conhecido em cursos preparatórios para Pré - vestibulares. O bom do senhor falar assim é mostrar a triste realidade que é a UNIR para quem quer graduar em algum curso. Admito que o aprendizado em seis meses em meu trabalho valeram muito mais do os quatro anos de faculdade...
...espero que não estejas enfrentando alunos com pouca visão para essas coisas e que estão com sete pedras atrás do senhor.
felicidades. e continuo lendo suas publicações.