domingo, 14 de dezembro de 2008

Alguém ainda se lembra do AI 5?


Quatro décadas do AI 5: a ideologia do nada


Professor Nazareno*

Há exatos quarenta anos, os militares brasileiros mostram ao mundo a sua face mais brutal e desumana: foi durante o governo de Arthur da Costa e Silva - 15 de março de 1967 a 31 de agosto de 1969 - que o país conheceu o mais cruel de seus Atos Institucionais. O Ato Institucional Nº 5, ou simplesmente AI 5, que entrou em vigor em 13 de dezembro de 1968, era o mais abrangente e autoritário de todos os outros atos institucionais, e na prática revogou os dispositivos constitucionais de 67, além de reforçar os poderes discricionários do regime militar. O Ato vigorou até 31 de dezembro de 1978.
Foi a partir deste ato que os ‘milicos’ começam de fato ‘a fazer a festa’ sobre os poucos opositores e a cercear toda e qualquer possibilidade de reação da tímida oposição do país. Era o início dos “anos de chumbo” da cruel e covarde Ditadura Militar que se abateu sobre a nação até meados da década de 1980. E o pior de tudo é que toda esta perseguição, afronta, desrespeito, assassinatos, torturas, falta de lógica foram cometidos em nome de uma pseudo Segurança Nacional e não serviu para muita coisa. A exemplo dos assassinos nazistas, os nossos militares estupraram e brutalizaram a consciência nacional em busca do nada.
Realmente: defendendo os princípios do capitalismo selvagem capitaneados pelos Estados Unidos, a Ditadura Militar no Brasil torturou e assassinou pacatos cidadãos para proibir dentre outras coisas, por exemplo, que o PCB (Partido Comunista Brasileiro) não tivesse sua legalidade e nem participasse da política nacional. Não conseguiram, pois hoje em dia não só o ‘partidão’, mas tantas outras siglas similares fazem parte do jogo político atual e o mundo ainda não se acabou por causa disto. Os militares brasileiros se especializaram em fazer o que mais sabem: censurar revistas de mulher pelada e torturar cidadãos indefesos.
Muitos ainda crêem que o pesadelo fardado já acabou e faz parte do nosso passado. Mas é sempre bom lembrar que a elite que sustentou ‘os gorilas da caserna’ é quase a mesma que ainda dá as cartas no jogo político e econômico do nosso país. E muito provavelmente ainda reina dentro dos nossos quartéis a mentalidade golpista, tacanha e retrógrada que incentivou os militares na aventura tresloucada de 1964 e da decretação do AI- 5. Em Porto Velho, recentemente, o episódio da tomada do terreno do nosso teatro pela soldadesca da Brigada de Infantaria e Selva, numa ridícula missão de ópera-bufa, é um exemplo disto.
Alguém deveria ensinar aos nossos militares que defender a Segurança Nacional seria não ter permitido que os bolivianos tivessem invadido as nossas refinarias de Petróleo ou então vigiar melhor as nossas fronteiras, que mais se parecem um queijo suíço, e dessa forma evitar a entrada clandestina de armas e drogas. Por tudo isso, não há absolutamente a menor possibilidade de se lembrar de forma cômoda neste 13 de dezembro de que há quarenta anos tivemos nossas consciências invadidas e fomos levados ao limbo. A imagem do país ficou manchada internacionalmente durante um bom tempo para absolutamente nada.

*É professor em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com

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